terça-feira, 19 de maio de 2009

Director's Edition



Ontem fui publicada uma entrevista que eu dei para o pessoal do Canal dos Games sobre a história "Guitarrêro" do Cebolinha.

Achei do caralho toda essa divulgação e interesse dos gamers pela história. A cada dia que passa, mais fóruns e sites comentam sobre o gibi, trazendo mais leitores para o universo da Turma da Mônica.

Mas, infelizmente, a entrevista não foi publicada na íntegra, fazendo com que a última resposta ficasse sem a conclusão e perdesse o sentido. Por isso eu resolvi reproduzir aqui a entrevista completa, pra vocês entenderem melhor o que eu estava tentando explicar sobre a dificuldade de escrever histórias baseadas em videogames:


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1)Qual o propósito de vocês em falar sobre o Guitar Hero na Turma da Mônica?

O fato é que na época em que eu escrevi esse roteiro (janeiro de 2009) eu estava mesmo viciado em Guitar Hero. Para um roteirista, qualquer experiência da vida real pode se tornar uma história. Eu varava as noites jogando e sempre rachava o bico quando me perdia na hora de liberar o poder das estrelas e ficava puto com os malditos botões laranja. Achei que muita gente também passava por isso e que talvez o assunto pudesse render uma boa história.

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2)Você joga Guitar Hero? Gosta de games em geral?

É claro! É impossível para um roteirista criar uma história sem ter, pelo menos, um conhecimento básico do assunto que ele está tratando, as informações acabam parecendo falsas e genéricas. É claro que eu tomei algumas liberdades na hora de escrever o roteiro para render mais algumas piadas, como por exemplo, o fato deles conseguirem jogar o mesmo game com o joystick e com os instrumentos. Na realidade, a série Guitar Hero só introduziu a bateria e o microfone no título World Tour, e nesse caso, o joystick já não era mais uma opção para o jogador.

Já zerei quase todos os títulos da franquia e mais uma porrada de hacks que eu baixei da internet. Também acompanhei a final do RockPlay, o primeiro campeonato de Guitar Hero no Brasil, que aconteceu em setembro de 2008, no Inferno Club da Augusta.

Sou viciado em games desde que comprei o Quake1 em 1996 (tenho até o símbolo do jogo tatuado no braço direito). Nesse caso, o que me chamou mesmo a atenção foi a possibilidade de construir novos mapas, programar novos monstros e bolar armas diferentes. Eu cheguei até a compilar uma “partial conversion” (com uma nova engine, efeitos especiais e várias outras modificações) chamada TribalQuake (ou Tribalmod, dependendo de onde vc baixava). Essa conversão fez um sucesso razoável em fóruns como Inside3D e o finado Quake Standards Group. Ela não está mais disponível pra download, mas algumas screenshots ainda podem ser vistas aqui.

Algum dia eu pretendo voltar pra esse tenebroso mundo da programação em QC e criar mais algumas coisas bizarras...

Infelizmente, hoje em dia não me sobra muito tempo pra jogar, mas ainda assim, eu estou tentando fechar o viciante Defense Grid e mod OffShore do Halflife2. Não curto muito esse papo de jogar online, gosto mesmo do bom e velho single-player.

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3)Na história, o videogame queima por causa do famoso problema das três luzes vermelhas e o Xaveco quase se desespera. Isso já aconteceu com você ou algum conhecido?

Na verdade eu jogo no PS2 com o joystick mesmo. Já joguei no Xbox360 do meu irmão e não consegui me adaptar direito com aquela guitarrinha de plástico. Talvez se eu treinasse mais...
Felizmente o videogame dele nunca deu o problema das 3 luzes vermelhas (mas já foi pra assistência técnica duas vezes). Eu só abordei esse problema na história porque tem muita gente por aí que já sofreu com isso e eu imaginei que eles acabariam se identificando com a situação.

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4) Vocês pretendem abordar outros games em outras histórias?

Isso só o tempo pode dizer, já que não é todo jogo que serve para virar uma história. Quando você escreve um roteiro baseado em qualquer coisa real, seja um filme, um desenho animado ou mesmo um game, você deve pensar também nos milhares de leitores que nunca ouviram falar do assunto em questão.

Só escrevi essa história sobre o Guitar Hero porque ele já virou uma mania mundial, um verdadeiro marco na indústria do videogame, um fenômeno cultural entre adultos, crianças e adolescentes. Mesmo que o leitor não tenha jogado o game, com certeza ele já ouviu falar e sabe do que se trata. Eu não poderia, por exemplo, escrever uma paródia de outros títulos famosos como HalfLife, Shadow of Colossus e God of War porque, apesar de serem bastante conhecidos entre os jogadores, o grande público não faz a mínima idéia do que sejam. Eu aprendi isso em 1998, quando escrevi uma sátira do Quake1, que na época era a bola da vez. Depois do expediente a sala dos roteiristas virava um matadouro de monstros e jogávamos até altas horas da noite, todo mundo tentando zerar o nível Nightmare. Mas, embora o jogo fosse o maior hit na internet, a maioria dos leitores nem sabia que o jogo realmente existia. Algumas páginas dessa história foram publicadas recentemente no meu blog.

Por essa razão, antes de escrever sobre alguma coisa, você tem que ter certeza de que a maior parte do público vai conseguir sacar as piadas. É claro que algumas passagens da história Guitarrêro são gags que apenas quem entende de jogos vai entender, como a cena em que o Cascão tira sarro dos games casuais (dizendo que são para bebês e avós), a cena da Magali jogando (e até mesmo citando o Rock Band) e por fim, o problema das 3 luzes vermelhas. Pensando nisso, eu tentei desviar do assunto de vez em quando pra deixar a história mais leve e divertida mesmo para quem não curte videogames.


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Abração e obrigado novamente ao pessoal do Canal dos Games pelo espaço!